terça-feira, 12 de janeiro de 2010

A vida de Julie


Eram tempos difíceis, o país estava em guerra, todos os homens foram convocados, ou melhor, obrigados a lutar. Lutar por um ideal que não nos pertencia. Entretanto um rapaz em especial apoderou-se de meu coração e levou consigo para o campo de batalha.
Foram anos de espera, ninguém mais acreditava na segurança e nas pessoas de bem, todos sofriam atentados, seja por abuso sexual ou por busca de comida.
Com as forças que me restavam, escrevia frequentemente para John, mas nunca recebia suas respostas. A cada dia víamos as fotos daqueles que não sobreviviam, angustiava-me até ter certeza que seu rosto não estava no meio daqueles.
Em um desses outonos meu querido pai faleceu, deixou-me sozinha, sem rumo, sem segurança e sem amor. Demorei muito para me acostumar com tudo aquilo, vivia do que as pessoas me davam, mas sempre diziam que a guerra estava no fim, mais um mês e todos estariam a salvos, só que eles esqueciam que para muitos a salvação nunca chegaria.
Os desertores começavam a parecer, só que o governo estava caçando todos eles, para quem não sabe, os desertores eram os soldados que se machucavam e eram tirados da batalha, mas não podiam voltar para casa, pois esperavam até que eles melhorassem para voltar a lutar pelo país. Muitos desses homens não agüentavam e saiam às escondidas, mas quem fosse pego fugindo, era morto e as pessoas que ajudavam a escondê-los eram acusadas de traição.
Uma certa moça apareceu na fazenda que era de meu pai, Christine me ajudou com tudo, superamos muitas coisas juntas, nos ajeitamos da forma que podíamos. Em um dia qualquer um homem ficou preso na armadilha feita no milharal, quando lá chegamos, a surpresa, era o pai de Christine, ele era desertor, mas era seu pai, não podíamos deixa-lo sem nada, só por medo do que os mandantes do governo podiam fazer.
Conseguimos seguir sem deixar nenhuma pista, ‘nossos’ desertores, pois é Vicent não estava sozinho, estava acompanhado de mais dois, Ted e o preferido de Christine, Timothy, eles viviam escondidos na floresta, frequentemente apareciam em nossa casa para comer, ou então para tomarmos um vinho.
Em um dia desses, fui até a casa de nossa vizinha, lá tinha poço e no meio de uma conversa, ela disse que seu poço mostra o futuro, sempre na esperança de reencontrar John, olhei para ele, e para minha surpresa eu o vi, o vi caminhando na minha direção, voltando para casa, para os meus braços, para o meu amor que sempre foi dele.
Atordoada voltei para casa e mais um dia se passou, com angustia e expectativa de ver o fim da guerra. Era natal, fizemos uma comemoração fechada entre nós, sentíamos sempre o perigo que vinha lá de fora e o frio congelava mais ainda meu coração, fazendo uma barreira para assim permanecer quente o sentimento preso lá dentro.
O dia parecia estar indo muito bem, até que Timothy apareceu correndo e disse que os mandantes do governo haviam aparecido no meio da noite e tinham matado Vicent e Ted, com sorte ele tinha se salvado, pois estava escondido na mata. Imediatamente Christine e eu arrumamos tudo, e fomos até onde eles estavam, Timothy ficou na fazenda por segurança, pois alguém ainda poderia estar por lá. Quando chegamos, por felicidade Vicent ainda estava vivo, perderá muito sangue, mais ainda era possível salva-lo, mas infelizmente Ted não.
Christine conhecia um lugar próximo dali, onde os índios costumavam se esconder, arrumamos algumas coisas por lá e eu, Julie sai para caçar algo para comermos. No meio da floresta, coberta por um manto branco, ouvi meu nome, com medo mandei quem fosse ir embora, mas por um instante algo me disse ao contrario, olhei melhor e gritei por John, abri bem meus olhos e imediatamente aquele homem correu até mim. Era John, era o amor de minha, era o homem que esperei por tanto tempo.
Ao voltarmos, ele me contou tudo, ainda não acreditava que estava perto de mim novamente. Contou que quase morrera, que recebeu uma de minhas cartas, que foi por ela que se manteve forte e fugiu até meu encontro. Foi preso no caminho, mas conseguiu fulgir, passou por situações ruins, mas sempre um amor forte batia em seu peito e lhe dava mais força para continuar sua caminhada.
Aquela noite jamais esquecerei, nós nos amamos, matamos toda aquela saudade acumulada, só que em tempo de guerra, felicidade alguma dura muito, na volta para casa, os matadores de elite apareceram por lá, atirando em nós. John, não desistiria de sua felicidade, foi mata adentro atrás de um deles, no meio da calmaria e dos corpos não chão, um barulho estrondante veio de dentro da floresta, não poderia ficar ali, um aperto muito forte chegou até meu coração, temia pelo pior, corri atrás John e no meio da minha trajetória angustiante, avistei-o, cambaleando, chegando ao seu encontro ele caio em mus braços, que o levaram até a neve, só pude ouvir suas ultimas palavras, um Eu Te Amo mais sincero que qualquer seu humano poderia ter dito e ali permaneci, chorando e vendo meu John partindo eternamente, uma ida sem volta, porém, uma ida sem guerra, cheia de paz e satisfação.
Tempos depois a guerra terminou, Christine casou-se com Timothy, Vicent sobreviveu e daquela noite um fruto foi gerado, Margaretti, minha pequenina, minha filha e hoje, minha atual recordação de meu amor. Todos os dias de minha vida penso em meu John, só sou capaz de esquecê-lo quando os afazeres gritam mais alto que seu amor, porem esses momentos não levam mais que segundos, diferente do que sinto, que levará a vida toda.

Nenhum comentário: